domingo, 19 de setembro de 2010

Ferreira Gullar sabe das coisas...


Anoitecer em Outubro (Ferreira Gullar)

A noite cai, chove manso lá fora
meu gato dorme
enrodilhado
na cadeira

Num dia qualquer
não existirá mais
nenhum de nós dois

para ouvir

nesta sala

a chuva que eventualmente caia

sobre as calçadas da rua Duvivier.

domingo, 5 de setembro de 2010

Saudade

...Saudade, da força que tinha os meus olhos nos teus...

...Saudade, de cada momento que eu lembro de cor
Só sabe de amor e saudade
Quem já ficou só...

Saudade, eu tenho saudade
Mas não de contigo voltar.
Eu vivo sentindo saudade
De amar.

Trechos da música Saudade da Nana Caymmi

Quero

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.

No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond